[English version below.]
A produção de arroz em Portugal tem uma longa história que começou muito antes de ser oficialmente documentada. Esta cultura agrícola tem raízes profundas, começando com a presença muçulmana e influenciada pela evolução das técnicas de cultivo ao longo dos séculos.
Os primeiros sinais de cultivo de arroz em Portugal aparecem nas regiões do sul com a invasão dos Muçulmanos em 711 d.C. Introduziram técnicas agrícolas durante a sua ocupação de mais de 500 anos, assim como muitas palavras, incluindo uma para “arroz”, que vem do arabe “ar-ruzz”. No entanto, a documentação oficial do cultivo de arroz começou apenas no início do século XVIII.
Os primeiros registos oficiais da cultura de arroz em Portugal datam do início dos anos 1700, especialmente na zona do estuário do rio Tejo. Nessa época, o cultivo de arroz não era comum e muitas vezes era considerado ilegal devido a preocupações de saúde, principalmente relacionadas com a malária. Apesar das proibições iniciais, o cultivo clandestino de arroz continuou, mostrando a sua importância na cultura portuguesa.
No século XIX, o cultivo de arroz tornou-se mais comum e sistemático, à medida que o governo português começou a reconhecer o seu potencial agrícola e que as restrições legais foram aliviadas. O governo começou a regular e apoiar a produção, estabelecendo condições para garantir a sua viabilidade e segurança.
No início do século XX, o cultivo de arroz estava concentrado nas terras alagadiças dos vales do Vouga, Mondego, Sado, Mira e Guadiana. Em 1909, foram estabelecidas regras para a preparação dos terrenos e a gestão da água, facilitando a expansão dos campos de arroz. Essas medidas levaram a um aumento da produção significativa durante os anos 30, expandindo-se para novas regiões com o apoio de melhores técnicas agrícolas e infraestruturas.
Historicamente, o arroz era um alimento de luxo, mas com o tempo, tornou-se um alimento básico na cozinha portuguesa, evidenciado pelos muitos pratos à base de arroz, tais como o arroz de pato, o arroz de cabidela (um prato de frango feito com o seu sangue) ou o arroz de marisco.
Tal como Portugal, a cultura do arroz em Espanha começou por volta do século VIII e estendeu-se à Itália no século XV, chegando às Américas nos anos 1600. As explorações portuguesas e o comércio global promoveram o intercâmbio de técnicas e variedades de cultivo de arroz.
Hoje, o arroz é cultivado principalmente nas bacias do Mondego (Figueira da Foz, Coimbra), Beira Baixa, Sado (Alcácer do Sal), Tejo e várias barragens no sul. Portugal tem cerca de 30.000 hectares dedicados ao cultivo de arroz, com uma produção anual de aproximadamente 150 milhões de quilos. Isto faz do país o quarto produtor de arroz na Europa, depois da Espanha, da Itália e da Grécia, mas tem o consumo mais elevado, com cerca de 19 quilos por pessoa por ano, contra 11, 8 e 9 quilos, respetivamente, para a Espanha, a Itália e a Grécia.
No entanto, com a escassez de água e as alterações climáticas, os produtores portugueses estão a experimentar e a desenvolver novas cultivares, mas as principais variedades cultivadas em Portugal continuam a ser o Carolino (especialmente as variedades Aríete e Euro) e o Agulha, conhecido pelo seu grão longo.
Uma rápida viagem a Portugal mostrará como o arroz está profundamente enraizado na cultura portuguesa, servido juntamente com carne ou peixe, batatas fritas e salada em mais pratos do que se pode contar.
Queres levar a tua leitura um passo adiante? Responde às perguntas abaixo ou usa as perguntas para discutir sobre o artigo com outra pessoa.
1. Quem introduziu as técnicas agrícolas de cultivo de arroz em Portugal?
2. Em que século começaram os primeiros registos oficiais do cultivo de arroz em Portugal?
3. Quais eram as preocupações associadas à cultura do arroz no início do século XVIII?
4. Que tipo de terreno é utilizado para cultivar arroz?
5. Como é que a produção e o consumo de arroz em Portugal se comparam aos de outros países europeus atualmente?
6. Quais são os teus pratos de arroz preferidos?
From “ar-ruzz” to “arroz”
Rice production in Portugal has a long history that began long before it was officially documented. This agricultural crop has deep roots, beginning with the Moorish presence and influenced by the evolution of cultivation techniques over the centuries.
The first signs of rice cultivation in Portugal appeared in the southern regions with the invasion of the Muslims in 711 A.D. They introduced agricultural techniques during their occupation of more than 500 years, as well as many words, including one for arroz (meaning “rice”), which comes from the Arabic "ar-ruzz". However, official documentation of rice cultivation only began at the beginning of the 18th century.
The first official records of rice cultivation in Portugal date back to the early 1700s, especially in the area of the Tagus estuary. At that time, rice cultivation was not common and was often considered illegal due to health concerns, mainly related to malaria. Despite the initial prohibitions, clandestine rice cultivation continued, demonstrating its importance in Portuguese culture.
In the 19th century, rice cultivation became more common and systematic as the Portuguese government began to recognise its agricultural potential and legal restrictions were eased. The government began to regulate and support production, establishing conditions to guarantee its viability and security.
At the beginning of the 20th century, rice cultivation was concentrated in the wetlands of the Vouga, Mondego, Sado, Mira, and Guadiana valleys. In 1909, rules were established for land preparation and water management, facilitating the expansion of rice fields. These measures led to a significant increase in production during the 1930s, expanding to new regions with the support of better agricultural techniques and infrastructure.
Historically, rice was a luxury food, but over time it has become a staple in Portuguese cuisine, evidenced by the many rice-based dishes such as arroz de pato (duck rice), arroz de cabidela (a chicken dish made with its blood) or arroz de marisco (seafood rice).
Like Portugal, Spain’s rice cultivation began around the 8th century and spread to Italy by the 15th century, reaching the Americas in the 1600s. Portuguese explorations and global trade promoted the exchange of rice cultivation techniques and varieties.
Today, rice is grown mainly in the basins of the Mondego (Figueira da Foz, Coimbra), Beira Baixa, Sado (Alcácer do Sal), Tagus, and several dams in the south. Portugal has around 30,000 hectares dedicated to rice cultivation, with an annual production of around 150 million kilos. This makes the country the fourth largest rice producer in Europe after Spain, Italy, and Greece, but it has the highest consumption, with around 19 kilos per person per year, compared to 11, 8, and 9 kilos respectively for Spain, Italy, and Greece.
With water shortages and climate change, however, Portuguese producers are experimenting and developing new cultivars, but the main varieties grown in Portugal are still the Carolino (especially the Aríete and Euro varieties) and the Agulha, known for its long grain.
A quick trip to Portugal will show you just how deeply rooted rice is in Portuguese culture, served alongside meat or fish, fries, and salad in more dishes than you can count.
Want to take your reading one step further? Answer the questions below or use the questions to discuss the article with someone else.
1. Who introduced rice farming techniques to Portugal?
2. In which century did the first official records of rice cultivation in Portugal begin?
3. What were the concerns associated with rice cultivation at the beginning of the 18th century?
4. What type of land is used to grow rice?
5. How does rice production and consumption in Portugal compare to other European countries today?
6. What are your favourite rice dishes?
Loved this - a rice dish with blood? - and the best way to support my Portuguese 💓